A vida do ser
humano sem Deus pode ser resumida em uma só palavra: infelicidade. Infelicidade
em última instância significa − ausência eterna da presença de Deus. Ninguém
deseja isso para si; pois quem desejaria para si a morte?
Uma pessoa que entrega sua vida
verdadeiramente ao Senhor Jesus Cristo e para Ele vive, passou da morte para
vida, portanto, encontrou a felicidade. Sendo isto um fato, temos que
enfrentar a questão de muitos crentes fiéis estarem em profunda depressão espiritual.
Responder esta questão não é simples. Mas
a Bíblia nos norteia nesse particular através de exemplos dos santos que
enfrentaram o quarto escuro e solitário da depressão. O profeta Elias é um
exemplo clássico do que estamos tratando.
Em 1 Rs 19.1−8 encontramos o
profeta prostrado no chão em grande declínio espiritual. Ele chega ao ponto de
pedir para si a morte (v.4). Por quê? Para responder esta pergunta temos que
analisar todo o contexto que envolve a referente passagem.
Elias surge no cenário de Israel em um
momento extremamente difícil. Acabe era o rei. Sobre ele está escrito:
“Fez Acabe, filho de Onri, o que era mau
perante o Senhor, mais do que todos os que foram antes dele. Como se fora coisa
de somenos andar nos pecados de Jeroboão... tomou por mulher a Jezabel, filha
de Etbaal, rei dos sidônios; e foi, serviu a Baal, e o adorou” (16.30,31).
Acabe, por inveja e sob a influência da
mulher tomou posse da vinha do falecido Nabote, morto maquiavelicamente por
Jezabel e seus comparsas (21.1-16). Acabe era rei, mas não mandava; era
isrealita, mas servia à Baal; queria ouvir a voz de Deus, mas atendia as
palavras dos falsos profetas; estava vivo, mas era como se estivesse morto.
Acabe já era mau, mas por casar-se com uma mulher ímpia, impiedosa, idólatra e
dominadora ficou pior ainda. Juntamente com sua mulher matou e perseguiu os
profetas de Deus durante os vinte e dois anos de seu reinado. Apesar de tudo,
Acabe teve boas atuações, principalmente na área de construção civil
(22.39).
Deus estava trabalhando em silêncio quando por meio de Obadias alimentou e
protegeu de Acabe e Jezabel cem de seus profetas (18.5). Mas Sua paciência e
seu silêncio para com os dois tinham acabado e como sinal disto enviou-lhes o
profeta Elias.
Destaca-se de imediato em Elias três
características indispensáveis a todo cristão: coragem no Senhor (17.1),
obediência ao Senhor (v.2−5), dependência no Senhor (v.4−6). Isto tudo,
observemos, em meio a um cenário de idolatria, perseguição e corrupção. Agora,
para piorar, por causa do pecado, não cairia sobre a terra dos hebreus orvalho
e chuva durante três anos e meio.
Até ao triunfo do Carmelo quando Elias
sozinho enfrentou quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal e quatrocentos de
poste-ídolo, não se observa nele segundo as Escrituras nenhum traço de
depressão espiritual. Mas depois do Carmelo e mais precisamente quando Elias
aguardava à entrada de Jezreel boas notícias que dentro de um prognóstico seu
viriam da casa real, tudo mudou (18.46)!
Elias fez um prognóstico que uma
vez exterminados os falsos profetas de Baal, Deus, de imediato, enviaria o
avivamento espiritual sobre toda a nação. Isto fica mais evidente quando depois
da vitória sobre os falsos profetas, Elias disse a Acabe: “Sobe, come e bebe,
porque já se ouve ruído de abundante chuva” (18.41). A chuva era o sinal!
Quando acabe deu a notícia a Jezabel, ela prontamente enviou um mensageiro
dizer a Elias: “Façam-me os deuses como lhes aprouver se amanhã a estas horas
não fizer eu à tua vida como fizeste a cada um deles” (19.2). A reação imediata
do profeta foi esta: “Temendo, pois, Elias, levantou-se
e, para salvar sua vida, se foi e chegando a Berseba, que pertence a Judá; e
ali deixou o seu moço” (19.3). Depois de percorrer uns cento e sessenta
quilômetros, ele deixou o seu discípulo e se prostrou debaixo de um zimbro de
tanta exaustão. Elias não estava preparado para esta resposta da realeza, pois
entendia que todo o problema em Israel se resumia aos falsos profetas. Concluiu
que uma vez exterminados, não só a chuva cairia, mas a fome deixaria de assolar
a nação, o pasto ressurgiria para alimentar o gado; lagos, córregos, e rios
alegrariam o povo em abundância de água – que mais a realeza e a multidão
queriam?
Elias caiu em depressão por se achar um
fracassado em sua missão espiritual para com o povo e, sobretudo com Acabe e
Jezabel. As bênçãos materiais, Deus tinha derramado, mas as espirituais como a
salvação e a mudança de atitude da realeza para com Ele mesmo e seu povo, o
Senhor não realizara. Isso foi o bastante para o mundo de Elias ruir. Disse o
profeta: “Basta; toma agora a minha alma, não sou melhor do que meus pais”
(19.4). Elias não teve poder de reação para lidar com o ocorrido. É um perigo
quando objetivamos algo e em prol deste algo empenhamos toda a nossa força sem
lograr êxito. Elias se sentiu assim. Julgou que seu esforço foi em vão porque
Deus não agiu na realeza de Israel conforme seu ponto de vista. A vontade do
Senhor é soberana! O profeta Jonas se viu decepcionado com DEUS, pois não obteve
o resultado que queria com sua pregação, resultado: entrou em depressão.
A depressão espiritual de Elias
trouxe-lhe conseqüências drásticas.
Em primeiro lugar: medo. O texto nos diz:
“Temendo, pois, Elias, levantou-se e, para salvar a sua vida se foi...” (19.3).
O profeta valente e ousado agora estava fugindo de medo das ameaças da rainha
(v.2) que poderia lhe tirar a própria vida (v.3).
Em segundo lugar: desesperança.
Observemos que a Palavra é clara: “e ali deixou o seu moço” (v.3). Elias perdeu
o ânimo para ensinar o seu discípulo (v.3) e o amor por si próprio (v.4).
Em terceiro lugar: esgotamento. Isto é
evidente: “Deitou-se, e dormiu debaixo do zimbro” (v.5). Seu esgotamento não só
foi físico (vs. 5-7), mas também espiritual (v.8), por isso que Elias por
orientação de um anjo do Senhor foi se tratar com Deus no monte Horebe.
Tiago bem disse que o profeta Elias foi homem semelhante a nós, sujeito aos
nossos mesmos sentimentos (Tg 5.17). Não só Elias, mas Davi (Sl 51.10,12),
Asafe (Sl 73.2,3), Pedro (Mt 26.74,75), Paulo (2 Tm 4.9−18) entre outros
personagens bíblicos caíram em depressão espiritual. Deus tratou com todos.
Deus não só habita no alto e santo lugar,
mas também com o contrito e quebrantado de coração (Is 57.15). Jeová jamais deixaria
só seus filhos no quarto escuro e solitário da depressão espiritual. O hino 193
da harpa cristã de Paulo Leivas Macalão traz a confiança inabalável em Deus
oriunda do usufruto de Sua presença apesar da depressão:
Ele intercede por ti, minh’alma;
Espera Nele, com fé e calma;
Jesus de todos teus males salva,
E te abençoa dos altos céus.
Foi a intercessão de Jesus por Pedro,
quando este lhe negou por três vezes, que o sustentou em seu choro de amargura
e desespero: “Eu, porém, roguei por ti, para que tua fé não desfaleça” (Lc
22.32a). O salmista com veemência exclamou: “Por que estás abatida, ó minha
alma? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu” (Sl
42.5). Fica claro que a cura da depressão espiritual se centraliza em Deus. Fica
claro também que todos os grandes homens de Deus que caíram em depressão
correram para o trono da graça a fim de obterem socorro em ocasião oportuna.
Quando esta força de buscar o trono era inexistente, o Senhor ia ao encontro
dos seus filhos, como no caso de Pedro e especificamente no caso de Elias.
O texto de 1 Rs 19.9−18 mostra como Deus
tratou e restaurou o seu profeta.
Primeiro: Deus levou Elias à sua
presença. O verso 9 diz: “Ali entrou numa caverna, onde passou a noite; e eis
que lhe veio a palavra do Senhor e lhe disse: Que fazes aqui, Elias?”.
O profeta passou uma noite inteira no
divã de Deus. Foi o próprio Senhor que o conduziu à sua presença. Os versos 7 e
8 deixam claro isto: “Voltou segunda vez o anjo do senhor, tocou−o e lhe disse:
Levanta−te, e come, porque o caminho te será sobremodo longo. Levantou−se,
pois, comeu e bebeu; e com a força daquela comida caminhou quarenta dias e
quarenta noites até Horebe, o monte de Deus”. Deus estava em silêncio quando
Elias estava prostrado no chão pedindo para si a morte. Agora, no monte Horebe
é diferente, Deus lhe dirige a palavra: “Que fazes aqui Elias?”. Quem não anela
ouvir em meio às tempestades a voz inconfundível de Deus? Feliz o homem
cujo deserto termina no monte santo de DEUS!!. A palavra de Jeová é
lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos (Sl 119.105). E mais:
“Na tua presença há plenitude de alegria” (Sl 16.11). O profeta deprimido, como
qualquer outro crente, precisava da amável e confortadora presença de Deus. Foi
Somente no trono do Pai que Elias se reencontrou com a verdadeira alegria que a
depressão espiritual lhe tirou.
Segundo: Deus se revelou
maravilhosamente a Elias. No verso 11 está escrito: “Disse−lhe Deus: Sai, e
põe−te neste monte perante o Senhor. Eis que passava o Senhor...”
São poucos os casos bíblicos em que Deus
se revela de uma maneira especial para os seus filhos. Abraão foi chamado amigo
de Deus (Tg 2.23). Enoque andou com Deus (Gn 5.24). Jó depois da provação,
quando perdeu bens, amigos, filhos, saúde, pôde dizer: “Eu te conhecia só de
ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso me abomino no pó e na cinza”
(Jó 42.5,6). Existe um anelo em todo cristão para contemplar a grandeza do
Senhor, à semelhança de Moisés que suplicou a Deus: “Rogo−te que me mostres a
tua glória. Respondeu−lhe, o Senhor: “Farei passar toda a minha bondade diante
de ti, e te proclamarei o nome do Senhor; terei misericórdia de quem eu tiver
misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer” (Êx 33.18,19). É na
vontade soberana de Deus que está o segredo de Sua manifestação pessoal aos
seus. Isto não implica dizer não devamos pedir e orar pela bênção. Devemos sim,
buscar acima de tudo o Deus da bênção e não meramente a bênção como é corrente
nos dias de hoje! Elias, assim como os outros, foi agraciado por Deus com Sua
maravilhosa manifestação.
No verso 11, Deus não estava num grande e
forte vento; muito menos no terremoto. No verso 12, o Senhor não estava no
fogo, mas numa brisa suave e tranqüila. À suave manifestação de Deus, Elias
“envolveu o rosto no seu manto...” (v. 13). O profeta sentiu o marcante poder
santificador e renovador do Senhor. Não há depressão espiritual que resista ao
tratar do Médico dos médicos. È Ele quem unicamente amassa o barro porque Ele é
o oleiro!
Terceiro: Deus deu uma lição no
profeta Elias. No verso 18 Deus fala assim: “Também conservei em Israel sete
mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que o não
beijou”.
Deus é o mestre por excelência. Ele
ensinou ao rebelde e insensível profeta Jonas o valor do verdadeiro amor ao
próximo através da morte de uma simples planta (Jn 4.6−11). O salmista aprendeu
o valor da disciplina divina, pois escreveu: “Antes de ser afligido andava
errado, mas agora guardo a tua palavra. Bem sei, ó Senhor, que os teus juízos
são justos, e que com fidelidade me afligiste” (Sl 119.67,75). Elias
experimentou a correção celestial em sua vida. Mas antes disto se estribou em
sua fidelidade a Deus para reclamar Sua proteção. No verso 14 ele repete com
mais intensidade o que falara no versículo 11: “Tenho sido em extremo zeloso
pelo Senhor Deus dos exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua
aliança, derribaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada; e eu
fiquei só, e procuram tirar−me a vida”. O profeta ouviu no verso 18 do próprio
Deus: “Também conservei em Israel”, Elias, “sete mil: todos os joelhos que não
se dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou”. Jeová mostrou ao seu profeta
que estava trabalhando em secreto. Elias estava se achando o último dos
profetas. Talvez imaginasse que nele se resumisse a esperança de Israel. Elias
aprendeu que Deus é Deus.
Que lição!
Quarto: Deus renovou a vocação
profética de Elias. O versículo 15 evidencia isto: “Disse−lhe o Senhor: Vai,
volta ao teu caminho para o deserto de Damasco e...”
Uma vez revigorado, Elias, o tesbita,
tinha que ungir Hazael como rei da Síria (v.15); Jeú como rei de Israel (v.16);
e a tarefa mais difícil, que era ungir a Eliseu como profeta em seu lugar
(v.17). Elias tinha agora que passar o cajado. Talvez não imaginasse que este
dia chegasse nestas circunstâncias. Contudo, tinha sido renovado para tal
missão! O avivamento sempre foi derramado por Deus quando necessário sobre
Israel, bem como individualmente sobre seus filhos. Deus renovou Israel no
tempo do profeta Samuel (Sm 7.1−13); do rei Josias (2 Rs 11.18); de Esdras e
Neemias (Ed 10.3; Ne 13.19). É notório que de forma particularizada o avivamento
desceu várias vezes sobre o melancólico Jeremias (Jr 17.14). Davi experimentou
isto em meio a sua confissão de pecado de adultério ao Senhor (Sl 51). No Novo
Testamento o apóstolo Paulo disse ao jovem e introvertido pastor Timóteo:
“reavives o dom de Deus, que há em ti pela imposição de minhas mãos” (2 Tm
1.6). A igreja primitiva de Atos é o modelo terreno a ser seguido. Mas ela foi
uma igreja que se desenvolveu debaixo da chuva poderosa do avivamento. Sempre
precisaremos do renovo de Deus em nossas vidas. Grandes homens de Deus
precisaram! Elias necessitou! Portanto, busquemos o trono da graça do Senhor,
pois de lá, somente de lá vem o reavivamento que nos curará de toda depressão
espiritual.
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